É importante para os analistas de crédito saber realizar uma análise econômico-financeira eficiente, com a leitura das demonstrações dos clientes PJ e a interpretação dos indicadores.
Assim é possível a identificação de informações como capacidade de pagamentos, geração de lucros, estrutura patrimonial, nível de endividamento e etc.
Por isso listamos algumas análises e suas correlações para que o analista de crédito compreenda as movimentações realizadas pelas empresas e identifique pontos importantes para esclarecimentos.
Demonstrativos financeiros na análise de crédito
Para uma análise consistente dos demonstrativos financeiros, deve-se estar atento, primeiramente, à precisão e veracidade transmitidas pelos documentos recebidos.
Quaisquer inconsistências, falhas ou indefinições identificadas, devem ser questionadas e, quando necessário, cobradas as devidas correções.
Sobre isso, verifique nosso post sobre com dicas práticas sobre gestão cadastral na análise de crédito.
Sempre recomendamos análise comparativa do desempenho da empresa nos exercícios anteriores e no exercício atual.
Além disso, as análises vertical e horizontal auxiliam nesta avaliação, revelando se existe progresso ou retrocesso nas contas e na situação do cliente.
Com isto em mãos, o analista de crédito deve buscar entender junto a seu cliente as razões para as variações identificadas nos períodos.
Variações nas contas do Balanço Patrimonial
O balanço patrimonial apresenta a posição contábil, financeira e econômica de uma empresa em determinada data.
É uma representação estática, quase como uma foto tirada em determinada data.
Abaixo seguem alguns exemplos de análises que podem ser realizadas nas contas do balanço patrimonial a fim de compreender os motivos das variações.
Alteração em Caixas e Bancos
Verificar se houve alteração concomitante na conta Clientes, pois a empresa pode ter modificado os prazos concedidos.
Reduções nos prazos (cálculo do Prazo Médio de Recebimento) resultam em maiores valores na conta Caixas e redução da conta Clientes.
Em caso de aumento nos prazos, a conta Clientes provavelmente apresentará crescimento e a conta Caixas e Bancos, redução. Ou seja, o oposto do mencionado acima.
Ainda, há a possibilidade de aumento ou redução nas vendas, com igual reflexo nas contas Caixas e Bancos e Clientes.
Alteração na conta Clientes
Verificar se ocorreram elevação ou redução nas vendas ou mudança no prazo médio de recebimento. Além disso, observe a inadimplência da empresa.
Alteração em Estoques
Identifique quais tipos de estoques compõe a conta.
Calcule o Prazo Médio de Estoques e veja se existem dificuldades em vendas ou alguma estratégia mercadológica da empresa.
Não se esqueça de avaliar se o estoque está adequado à atividade e ao porte da empresa.
Já vi empresas considerarem como estoques itens de insumo ou com pouca relação com sua atividade principal. Neste caso, cuidado!
Alteração no Imobilizado
Se para mais, confirmar se houve investimento (através de recursos bancários de longo prazo, recursos próprios…) ou se trata- se de reavaliação do imobilizado.
Se para menos, pergunte se houve venda de imobilizado, alteração no cálculo da depreciação, etc.
Fique muito atento às alterações em ativo imobilizado.
Alteração em Fornecedores
Avaliar se também aconteceu variação (para mais ou para menos) na conta estoques e/ou no prazo negociado junto a fornecedores, através do cálculo Prazo Médio de Pagamentos das Compras.
Caso fornecedores represente valor expressivo, analise à composição e verifique se os valores são referentes a financiamento do ativo permanente.
Alteração das Dívidas Bancárias de Curto Prazo
Recomendamos muita cautela nesta conta.
Entenda as alterações e descubra a que se referem (cobertura de ciclo financeiro desajustado, amortização das parcelas dos recursos captados no longo prazo, etc.).
Outro ponto importante é identificar a representatividade da mesma ante a sua capacidade de geração de recursos.
Empresas muito endividadas no curto prazo podem não conseguir honrar seus compromissos considerando o curto espaço de tempo para geração de receitas.
Se isto acontecer, questione se não é indicador de gestão fraca.
Geralmente, empresas que optam por captar valores no longo prazo, demonstram maior capacidade administrativa, uma vez que dispõe de maior tempo para quitação destes valores.
Alteração das Dívidas Bancárias de Longo Prazo
Identifique a natureza da operação através do SCR emitido pelo banco do cliente.
Patrimônio Líquido
Verificar se houve aumento ou redução do resultado do exercício (lucro ou prejuízo), aporte de recursos pelos sócios na empresa, ajustes de Avaliação Patrimonial, etc.
Detalhe bem esta conta para melhor visualização e compreensão das variações (principalmente quando expressivas).
Variações no Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE)
Variações na receita operacional bruta
Observe às variações mensais, comprando com exercícios anteriores.
Descubra as razões para aumentos ou quedas expressivas (crise no setor, programas de incentivo do governo, vendas aquecidas, etc.).
CPV/CMV/CSP
Recomendamos que o analista tenha alguma familiaridade com a atividade da empresa a fim de identificar se os custos estão adequados.
Despesas com vendas, administrativas e outras despesas operacionais:
Da mesma forma, o analista deve ter conhecimento da atividade do cliente. É importante avaliar se os custos e despesas apresentados estão condizentes com a atividade.
Afinal, variações financeiras na análise de crédito de um exercício a outro (para mais ou para menos) devem ser sempre observadas.
Despesas ou receitas financeiras
As receitas financeiras devem ser avaliadas com cautela. Estas podem não ser recorrentes, e por isso devem ser analisadas separadas do resultado da empresa.
Nos casos de despesas financeiras, verifique a representatividade da mesma. Isso pode ser um indicador de certa fragilidade financeira e/ou dependência de recursos onerosos.
Além disso, é importante avaliar se há coerência entre os valores que são apresentados, e as dívidas a que se referem.
Despesas ou receitas não operacionais
São valores não recorrentes e que, da mesma forma como as receitas financeiras, devem ser avaliados à parte do resultado da empresa.
Em caso de lucro ou prejuízo em função destas contas, o analista deve apontar como situação de alerta. Sendo assim, adotar cautela na interpretação destes números.
Por exemplo: receitas não operacionais podem ser um bom indicativo quando os bens estiverem sendo vendidos para aquisição de novos, e podem ser um mal indicativo se tiverem como justificativa a quitação de dívidas.
Já as despesas não operacionais, mesmo que não recorrentes, devem ter sua origem avaliada para compreender a situação do cliente.
Resultado líquido do exercício
O Resultado do exercício, em caso de lucro ou prejuízo, é extremamente importante. Afinal, é ele quem paga as contas.
Sempre verifique a relevância das variações financeiras na análise de crédito antes de tomar a decisão final.